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A Segunda morte de Suellen Rocha - Cláudia Lemes

28 janeiro 2021

 Olá, viajantes!

Se vocês nos acompanham nas redes sociais, viram o comunicado de que o bloguinho vai voltar à ativa! Por enquanto, o objetivo é trazer resenhas de livros que eu tenho lido nos últimos tempos. Quero destacar que ainda não temos uma frequência de postagens definida, mas peço um pouquinho mais de paciência.

Minha rotina andou conturbada nos últimos meses e foi difícil pra mim lidar com todo o cenário atual, as leituras para a tese que estou construindo e a manutenção do LV. Esse é um espaço que me faz muito bem, e é por isso que quero investir mais tempo nele ao longo do ano.

Sem mais delongas, vamos ao que realmente interessa! A resenha de hoje é sobre o livro A segunda morte de Suellen Rocha, da autora Cláudia Lemes. Publicado pela editora AVEC, ele é um thriller cheio de mistério que vai prender a atenção do leitor!

 

TÍTULO: A segunda morte de Suellen Rocha
AUTORA: Cláudia Lemes
EDITORA: AVEC
NÚMERO DE PÁGINAS: 304 páginas
ANO DE LANÇAMENTO: 2020
SINOPSE: Numa tarde em 1996, quatro adolescentes cometeram um crime impensável na mata densa da cidade de Jepiri. Nos dias atuais, Suellen Rocha é atacada e mutilada. Na parede, apenas uma palavra escrita com o sangue fresco: “Assassinas”. Agora, Mariana, Dafne e Cacau serão sugadas por um redemoinho de intrigas, política, corrupção e segredos que acharam que haviam enterrado vinte e um anos atrás, antes que uma delas seja a próxima vítima. A Segunda Morte de Suellen Rocha é o sexto romance de Cláudia Lemes. Aborda temas sensíveis como a corrupção e a influência das igrejas nas pequenas cidades brasileiras, enquanto nos apresenta personagens imperfeitos e realistas que poderiam ser nossos vizinhos. AVISO DE GATILHO: Como todos os livros da autora, A Segunda Morte de Suellen Rocha é uma obra policial violenta que toca em temas como machismo, abuso sexual, aborto e suicídio.

Mariana, Dafne, Maria Cláudia e Suellen são inseparáveis. As meninas fazem tudo juntas e tem laços de amizade e lealdade muito fortes entre si. Em 1996, no entanto, a vida vai mostrar a elas que tudo que mais amam pode se desfazer em segundos. Uma série de tragédias leva as quatro amigas a se separarem para sempre. Ou pelo menos até a morte de Suellen, ocorrida em um atentado cruel e brutal dentro de sua própria casa. Esse acontecimento traz à tona um passado que as meninas achavam já estar enterrado. Com isso, elas se reúnem novamente na pequena cidade onde cresceram e são obrigadas a encarar seus piores fantasmas.

Eu não posso falar muito sobre o enredo do livro sem correr o risco de dar algum spoiler indesejável nesse momento. Mas se um leitor me pedisse pra resumir o livro em uma frase, ela seria: a verdade sempre cobra o seu preço. Filosófico, não? Mas é a maior pista que eu posso revelar sobre a leitura nesse momento.

Sempre gosto de começar a resenha falando sobre a minha experiência de leitura. Nesse quesito, posso afirmar que eu devorei as 304 páginas do livro em dois dias, o que já dá uma ideia do quanto foi positiva minha relação com a história. O que eu mais gostei é que, ao longo de todo o livro, a autora consegue deixar o leitor curioso sobre os próximos passos de cada personagem e os acontecimentos que ainda estão por vir.

O livro é dividido em partes e intercala passado e presente. Acredito que essa foi a dinâmica ideal para o enredo. Ao mesmo tempo em que o presente era o ponto culminante da narrativa, onde tudo acontecia, ele se relacionava diretamente ao passado. Ou seja, era preciso que o leitor conhecesse os acontecimentos anteriores àqueles que estavam ocorrendo no momento do relato. Também acho que a visão em terceira pessoa foi a escolha correta para a narração. Ela permite que o leitor entenda os personagens por si próprio, a partir de pistas dadas pelo narrador. Isso significa que temos, aqui, uma perspectiva ampla dos protagonistas dessa história, de sua personalidade, de suas atitudes e de suas decisões.

Falando em personagens, o elenco é grande nessa história. Entre todos eles, nenhum se destaca mais que os outros. Se vocês pensam que isso é ruim, eu afirmo que nada poderia ser mais positivo do que isso nesse enredo. Isso porque todos os personagens tem sua função dentro da história e são centrais para o andamento de tudo que acontece ao longo da narrativa. Em uma escala de importância, eu diria que todos eles tem a sua relevância no livro, o que justifica a seleção de tantos protagonistas diferentes para um mesmo relato.

Outro ponto que preciso destacar do aspecto personagem é que todos eles são extremamente realistas? Sabe aquele tipo de protagonista muito bonzinho que é impossível ser verídico? Ou então aquele vilão totalmente frio e calculista, que não tem um pingo de bondade? Aqui não tem nada disso! Aliás, os papeis de mocinho e vilão, nesse livro, não são necessariamente definidos. Isso porque todos os personagens tem seus pontos fracos e fortes, suas qualidades e seus defeitos, suas decisões acertadas e suas escolhas erradas. Inclusive, é essa personalidade verossímil dos protagonistas que permitem o desenrolar do enredo exatamente como ele ocorre. Na minha opinião, esse é um dos pontos mais positivos do livro porque permite ao leitor perceber o quão complexa é a construção dos personagens e como é difícil (praticamente impossível) rotulá-los. Essa perspectiva aproxima os protagonistas do leitor, ao ponto de torná-los críveis, o que desperta sentimentos de identificação, de rejeição, de compreensão, de julgamento. Enfim, o ponto aqui é que os personagens conseguem despertar o melhor e o pior em si mesmos e no leitor. Se a intenção do livro for passar alguma mensagem, ela seria essa: ninguém é tão justo a ponto de não cometer erros. Todos os protagonistas dessa história são extremamente humanos e, portanto, imperfeitos.

No que se refere ao desfecho do livro, confesso que já previa o final antes mesmo de ele acontecer de fato. Mas isso não me incomodou na narrativa, porque realmente não acredito que o elemento mais importante desse enredo seja a surpresa. Na minha visão, o aspecto mais significativo do livro de Cláudia Lemes é a intensidade com que tudo acontece, com que tudo é sentido. Isso deixa aquela sensação de tensão constante no leitor, como se algo muito ruim estivesse prestes a acontecer. 

Boa parte dessa intensidade vem dos temas abordados pela autora: todos eles são muito fortes e pesados. Já aviso aos leitores mais sensíveis que algumas cenas podem ser bastante difíceis de digerir. Eu mesma precisei parar para respirar em alguns momentos durante o livro (logo eu, leitora acostumada com policiais cheios de sangue). A questão de A segunda morte de Suellen Rocha é que ele toca naquele ponto central de todos nós: a crueldade humana. Seja falando de religião, amor, violência ou escolhas, a autora consegue mexer na ferida de uma forma que incomoda, que desacomoda, que exige uma reação. Não dá pra definir a história de Cláudia Lemes como pertencente à zona de conforto de qualquer leitor.

Pra finalizar essa resenha, eu queria reforçar que A segunda morte de Suellen Rocha é um daqueles livros que te marcam de alguma maneira. Seja pelo tempo que você demora pra esquecer cada descrição, seja pela forma como você passa a analisar cada temática apresentada depois dessa história, seja pelas sensações que o enredo é capaz de proporcionar. O fato é que se torna impossível sair dessa leitura intocado. O leitor que começa a ler o livro de Cláudia Lemes não é o mesmo leitor que sai dessa narrativa. E, sinceramente, eu acho que é justamente esse o papel da literatura: ensinar a ser melhor ou, pelo menos, diferente do que você já foi.

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