Olá, viajantes!
Vocês conseguem imaginar uma sociedade em Tóquio dividida por uma característica física de seus cidadãos? Pois é exatamente isso que acontece em Alba, do autor Matheus Sperafico, livro recebido em parceria com a Editora Skull que a gente vai conhecer hoje!
TÍTULO: AlbaAUTOR: Matheus SperaficoEDITORA: Skull EditoraNÚMERO DE PÁGINAS: 430 páginasANO DE LANÇAMENTO: 2018SINOPSE: Em uma Tóquio do amanhã ergue-se uma imponente Cidadela, sustentada por pilares, acima de tudo e todos. Nela, somente aqueles possuidores de Graças podem viver em sua utopia clara e reluzente. É nesse lugar onde uma figura encara o mundo caótico abaixo, disposta a ir contra o senso comum e mudar a realidade cruel que cerca a todos. Entretanto, o choque entre belas idéias e esperanças contra a dura e implacável realidade é mais do que o suficientes para trazer a tona a verdadeira natureza de cada um. Em meio a tanta dor e medo, ninguém é capaz de prever que tipos de monstros podem espreitar em meio às sombras... ou surgir delas. Com elementos cyberpunk, suspense e drama policial, Alba traz uma reflexão quanto à natureza humana e os limites de até onde estamos dispostos a ir por aquilo que acreditamos ser o certo, indiferente das circunstâncias e métodos necessários que se apresentem em nosso caminho.
A Cidadela Branca é o lugar ideal para se viver: segura, tecnológica, cheia de todas as coisas que uma pessoa poderia desejar. Mas ela não é lugar para todos. Apenas aqueles presenteados com as Graças podem fazer parte daquela civilização perfeita. Aos outros, resta a Cidadela Negra, uma parte caótica e destruída de Tóquio. Percy sonha mudar essa realidade através de atitudes concretas e Cassandra tenta simplesmente ignorar a situação. No entanto, um acontecimento inesperado muda o destino desses dois habitantes da Cidadela Branca e faz com que seus ideais sejam definitivamente marcados pela dor, pelo sofrimento e pelo medo, capazes de trazer à tona o que há de pior em cada ser humano.
O livro de Matheus pode ser resumido em uma palavra: surpreendente. Eu não conhecia a escrita do autor, mas fui positivamente impressionada com o modo como ele construiu seu enredo. O título é dividido em cinco partes, cada uma das quais representa um momento diferente da história. Assim, o leitor consegue compreender não apenas a evolução da trama, mas também a crescente tensão que permeia os eventos e o quanto isso influencia nas personagens.
Cada parte e cada capítulo da narrativa são acompanhados de um trecho específico. No caso das partes, esse fragmento dá ideia do que vai acontecer naquela divisão do livro e, nos capítulos, esses excertos são voltados à civilização que conhecemos ao longo do enredo. Eles explicam as características e os pontos mais importantes dessa construção social. Esses trechos podem ser considerados complementos essenciais da narração e revelam detalhes que podem modificar a forma como lemos e entendemos o livro. Eu achei uma tática genial por parte do autor!
Cabe destacar também que Alba é uma distopia futurística, com elementos de cyberpunk e thriller. Essas particularidades transmitem ao livro uma originalidade capaz de elevar a história a outro patamar. Eu compararia a narrativa, inclusive, aos enredos de mangás japoneses, tramas sempre bastante fantasiosas, que prendem o leitor do início ao fim. Outro ponto bastante positivo em Alba são as descrições: elas são bastante precisas e ricas em detalhes, o que transporta o leitor diretamente para o centro da história. Enquanto lia, eu conseguia criar imagens muito concretas de todos os cenários e personagens descritos pelo autor, o que me possibilitou um maior envolvimento com o livro e uma identificação grande com o enredo.
Matheus conseguiu, nesse título, fazer algo que eu considero extremamente satisfatório: ele demonstrou que as personagens crescem ao longo da narrativa. Percy começa como um sonhador, um idealista que, aos poucos, vai sendo modificado pela realidade que encara. Já Cassandra é apenas uma garota comum, que busca viver seus dias apenas. Acontecimentos imprevisíveis, porém, a transformam em uma verdadeira guerreira, forte e destemida em busca do que acredita. É impossível negar a evolução das personagens durante a trama, e isso torna os protagonistas ainda mais complexos. É muito interessante acompanhar o quanto essas figuras mudam conforme os eventos ocorrem e o quanto suas personalidades são influenciadas pela situação que os rodeia. Esse elemento traz a representação da realidade ao livro, junto do caráter humano das personagens: nenhuma delas pode ser considerada totalmente boa ou má; elas são seres dúbios, que definem suas ações de acordo com o acontecimento que está a sua frente.
Vale destacar também as temáticas pertinentes abordadas pelo autor durante o livro. Mesmo que de forma ficcional, Matheus consegue trabalhar com dois assuntos bastante importantes da vida em sociedade e do ser humano em si: a desigualdade e o preconceito explícitos no tecido social e o instinto de sobrevivência intrínseco à humanidade. Na própria construção da civilização do livro, podemos perceber o desequilíbrio entre os cidadãos e uma espécie de repulsa pelo uso de próteses, encaradas como representações das diferenças existentes entre os seres. A riqueza da Cidadela Branca em oposição à pobreza e ao descaso da Cidadela Negra podem ser vistas como metáforas para um problema social enfrentado pelo nosso país desde sua origem. Além disso, a teoria principal que o protagonista tenta provar a todo instante a partir de certo ponto da narrativa é uma ilustração da questão que acompanha as discussões humanas desde sempre: até que ponto um ser humano é capaz de ir para salvar a si mesmo e aqueles que ama? Sua sobrevivência é prioridade em qualquer situação?
Todos esses elementos transformam Alba em um livro complexo e denso. A diagramação da Editora Skull complementa essas características: ela é detalhada, feita em preto e branco, com letras bastante agradáveis para ler e particularidades que remetem diretamente ao contexto do livro, como os símbolos chineses presentes no início de cada parte do livro ou a ilustração que aparece no número de página. A capa também está bastante conectada ao livro, apresentando os dois polos mais extremos da narrativa: a Cidadela Branca e a Cidadela Negra, cenários completamente opostos.
Por fim, posso dizer que a leitura de Alba me trouxe surpresa e revolta ao mesmo tempo. Surpresa por conta de todas as ações e reviravoltas que ocorrem durante a narrativa e revolta ao perceber todas as injustiças ocorridas naquele mundo. É praticamente impossível ficar indiferente às situações e aos dilemas morais apresentados durante o livro, e acredito que seja essa impossibilidade a responsável por elevar a leitura a uma das melhores que fiz esse ano. Se você procura uma distopia capaz de envolver, suscitar reflexões e entreter ao mesmo tempo, com certeza Alba é a escolha certa! Me contem nos comentários se já conheciam essa história. Até a próxima postagem, viajantes!
Já ouvi falar do livro, mas nunca tinha parado para ler nada a respeito da obra. Até que de certo modo me deixou cativada o enredo, com certeza eu daria uma chance a ela.
ResponderExcluirKAROLINI BARBARA (BLOG)
@karolinibarbara_