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[RESENHA] A Irmã - Louise Jensen

02 outubro 2018

Olá, viajantes, tudo bem com vocês?

Hoje a gente vai de resenha, e o livro que eu apresento a vocês foi lançado pela editora Única e escrito por Louise Jensen. Conheçam A Irmã, e se surpreendam comigo com o fato de que nem tudo parece realmente é.

A Irmã

TÍTULO: A Irmã
AUTOR: Louise Jensen
EDITORA: Única
NÚMERO DE PÁGINAS: 304 páginas
SINOPSE: Grace nunca mais foi a mesma depois da morte de sua melhor amiga, Charlie. Sua vida estava desmoronando sem que ela conseguisse se mexer: não conseguia mais trabalhar nem sair, e o abismo entre ela e Dan, seu único amor, parecia aumentar a cada dia. Atordoada pelas palavras que Charlie lhe disse no último encontro que tiveram, Grace sabe que precisa fazer alguma coisa para conseguir seguir em frente antes que seja tarde demais. Em busca de respostas, Grace resolve recuperar uma antiga caixa de memórias que ela e Charlie haviam enterrado ainda na adolescência. Lá, Grace descobre uma carta de Charlie, revelando o desejo da amiga de encontrar seu pai, Paul, a quem ela nunca conhecera. Será que foi por isso que Charlie fugiu por seis anos? Será que Paul teria alguma pista que explicasse o que aconteceu com sua melhor amiga? Enquanto procura por Paul, Grace conhece Anna, uma garota que se declara irmã de Charlie, alguém que rapidamente invade a vida e a casa de Grace. Mas algo não está certo. Dan está Cada vez mais distante e Grace tem certeza de que alguém a está seguindo. Será tudo isso coisa de sua cabeça? Quanto mais Grace se aproxima da verdade sobre Charlie e Anna, mais ela corre perigo. Ela conseguirá se salvar?

    

Grace sempre foi uma garota insegura por estar fora do padrão de beleza estabelecido pela sociedade, e por isso encontrava em sua melhor amiga Charlie seu abrigo e exemplo. Totalmente oposta a ela, Charlie emanava personalidade, feminilidade e confiança, apesar de todos os problemas que a envolviam, e isso era uma das coisas que Grace mais admirava na amiga. Por conta de toda essa ligação entre as meninas, foi um choque terrível para Grace perder Charlie tão repentinamente, sem nenhum tipo de aviso prévio e em uma situação totalmente atípica. O mundo da garota desmoronou, e com ele qualquer relação mais efetiva que ela poderia ter com Dan, seu então marido.

O sofrimento não deixava o coração de Grace, que logo se viu ainda mais envolvida com a situação ao encontrar uma caixa que as garotas construíram juntas e enterraram em um lugar simbólico para as duas. Nela, Grace encontrou um bilhete misterioso de Charlie, que não conseguia compreender. Em busca de respostas e de uma maneira de, enfim, descansar e seguir adiante com sua vida, Grace resolve realizar a maior vontade da amiga: identificar e contatar seu pai biológico. O que ela não esperava é que, ao invés do pai da garota, batesse de frente com uma irmã que, assim como Charlie, entrou intensa e definitivamente nos dias e na mente de Grace. Anna era parecida com a amiga que ela havia há pouco perdido e, por mais que não pudesse substituir Charlie, trazia uma pontinha de consolo para Grace. Mas logo coisas estranhas começam a acontecer e Grace vai perceber que as aparências, na maioria das vezes, são apenas máscaras ocultando as verdadeiras intenções.

Falar de A Irmã é um pouco difícil pra mim, confesso, porque esse foi um livro que mexeu muito comigo, em todos os sentidos. Se existisse uma palavra com a qual eu definiria essa história, a palavra seria intensidade. A trama não inicia frenética; nos primeiros capítulos somos introduzidos ao contexto e às personagens, entendemos seus dramas, seus medos, suas angústias, e só então o enredo principal começa a se desenrolar. Essa é uma escolha interessante da autora, assim conseguimos aprofundar-nos nas personagens, conhecer suas personalidades e entender as atitudes que levaram a tais caminhos, que trouxeram determinados desfechos como consequência. Acho importante destacar que a história não é linear, mas sim repleta de flashbaks. Com capítulos divididos entre "Antes" e "Agora", somos apresentados aos sentimentos mais íntimos da Grace, narradora da história, e é a partir da visão dela que conhecemos não apenas a trama, mas as outras personagens que fazem parte dessa história. 

Quando entramos na segunda parte do livro, aquela em que tudo realmente acontece, as coisas se tornam obscuras, cruéis e até mesmo assustadoras. A partir desse momento, a aura do livro muda, e o leitor é envolvido em um clima de tensão, permanente e crescente, que desemboca em surpresas tão sinistras quanto perturbadoras. Eu confesso que o desfecho do livro foi um pouco previsível para mim, pelo menos parte dele, mas isso não anula em momento algum o impacto que os acontecimentos tem sobre mim, como leitora, ou o poder que eles possuem de me chocar, total e constantemente.

Na minha opinião, um thriller que se preze precisa ser também um suspense, o que quer dizer que o mistérios, os segredos e a ambiguidade são elementos definidores de grande parte do sucesso de uma trama desse gênero. E Jensen nos entrega tudo isso magistralmente: as peças do quebra-cabeças que essa história se torna não são dadas todas de uma vez ou de uma maneira fácil. O leitor descobre os fatos verdadeiros no mesmo momento em que a protagonista e precisa, assim como ela, colocar cada pedacinho em seu devido lugar para que, enfim, tenhamos as respostas que buscamos. E quando elas chegam, senhores, todos os forninhos vão cair por terra! Jensen construiu um enrendo complexo, cheio de possíveis alternativas, e ela consegue escolher justamente aquela que nos deixa mais estarrecidos. São várias as ligações e intrincamentos que acontecem ao longo da narrativa, sejam elas de personagens, de fatos, de histórias, é um entrecruzamento danado que, ao mesmo tempo em que te deixa confuso e doido para entender tudo logo, é o que mantém a trama interessante e, eu diria até, viva e pulsante, pulando das páginas do livro.

Grace é uma protagonista com a qual eu me identifiquei bastante. As inseguranças dela com relação ao próprio corpo, à própria auto-confiança, à própria autossuficiência, já forma e ainda são as minhas também, e tenho certeza que as de muita gente por aí. Apesar da inteligência, do bom-humor, da meiguice, a garota nunca se percebe definitivamente boa. É como se Charlie representasse tudo aquilo que ela jamais seria, e isso a fazia praticamente idolatrar a amiga. Ao contrário do que possa parecer, não havia nenhuma inveja na relação das duas: elas realmente se amavam e se protegiam, independente dos problemas que cada uma pudesse ter. É bonito acompanhar a amizade entre as personagens porque é um sentimento mútuo e extremamente verdadeiro, que comove e encanta. Por isso eu sofri tanto com a Grace com tudo que acontece durante e depois da morte de Charlie, porque é impossível não exercer a empatia quando se trata dessa personagem. É claro que algumas vezes eu perdi a paciência com ela (principalmente com relação à autopiedade, que afastava praticamente todos que ela mais amava), mas eu consegui entender as razões que a levavam a tais atitudes ou pensamentos, e por isso ficava fácil me solidarizar com ela.

O mesmo, na verdade, aconteceu com Anna. Ela é uma das personagens mais emblemáticas que eu já conheci e eu não posso falar muito dela para não correr o risco de soltar um spoiler gigante e atrapalhar a leitura de vocês, mas eu posso dizer que Anna me surpreendeu a todo momento. Ela é extremamente parecida com a Charlie, aquele tipo de menina que sabe o poder que tem e não tem medo de usá-lo, a qual muitos admiram e outros simplesmente invejam, mas ninguém consegue ser indiferente. Nem mesmo Grace. Depois que se conheceram, as duas se aproximaram tanto e tão rapidamente, que até eu fiquei surpresa. Anna tinha a habilidade de quebrar todas as barreiras que Grace havia imposto entre si e o resto do mundo e foi por isso que ela conseguiu chegar tão perto da garota. E foi por isso que eu a odiei em muitos momentos, e a amei em outros tantos.

Lexie é a mãe de Charlie e é uma mulher complicada. Ela sempre teve todo tipo de problemas, todos eles relacionados ao seu vício em bebida alcoólica. Exagerada, desbocada, encrenqueira, Lexie era todos os extremos juntos, desde o início do livro. Não sei se posso classificá-la como uma boa mãe, mas ao longo da narrativa vamos descobrindo que ela realmente amava Charlie, apenas não sabia como demonstrar isso, porque nunca havia sentido amor de nenhum lado. Assim como aconteceu com as outras personagens (com o Dan inclusive), minha relação com a Lexie foi do amor ao ódio e do ódio ao amor muito rapidamente, e as vezes eu nem conseguia distinguir o motivo que me levou a isso. Na verdade, esse é o ponto mais interessante das personagens para mim: elas são tão reais, tão comuns, tão humanas, que não é possível julgá-las a partir de parâmetros únicos e imutáveis. Assim como qualquer um de nós, elas são capazes de coisas abomináveis, que vão fazer o leitor detestá-las, mas também são capazes de realizar ações altruístas. É difícil dizer que não é possível compreender cada uma delas, cada pensamentos e traço de personalidade. Tudo aqui tem um porquê, e as vezes vai doer descobri-los, então estejam preparados.

Quando todos os enigmas estão solucionados, quando nosso coração já está em pedaços e a gente realmente acha que não existe mais nada, a autora nos brinda com um final maravilhoso, que deixa acesa aquela pontinha de esperança no final do túnel das desgraças. É por isso que esse livro me marcou tanto: ele definitivamente retrata a vida humana. É claro que nem todo mundo vai passar pelas situações que as personagens enfrentam aqui, nem literal nem figurativamente, mas essa aura de final mais ou menos feliz, de existir uma chance de felicidade pelo menos, é o que faz todos nós seguirmos em frente depois de uma situação complicada. Olhar para frente, enxergar tudo e todos que temos, e superar é uma das possibilidades mais bonitas que a vida nos proporciona, e é exatamente isso que acontece aqui.

Se você, querido viajantes, está esperando uma leitura fácil, passe longe de A Irmã, por enquanto. Mas se possível, depois de preparado e dispostos, dê uma chance a esse livro. Ele não é apenas um thhriller muito bem composto e escrito, é também uma história de medo, perdas e superação. Depois que lerem venham debater comigo, por favor! Até a próxima postagem!

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