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[NAS TELAS] A Barraca do Beijo

27 agosto 2018

Olá, viajantes!

Hoje eu trago mais uma (pseudo) crítica de filme para vocês, e eu realmente espero que curtam. A Barraca do Beijo é um filme produzido originalmente pela nossa amada salvadora de dias tediosos Netflix e apresenta uma proposta bem clichê e adolescente de enredo, o que, entendam bem, não é ruim, pelo menos pra mim. Se você ainda não assistiu ao filme, vem comigo ver minhas impressões sobre ele, e se você já assistiu (provavelmente!), vamos ver se a gente concorda, beleza?



TÍTULO: A Barraca do Beijo
TÍTULO ORIGINAL: The Kissing Booth
PRODUTORA: Netflix
ANO DE LANÇAMENTO: 2018
TEMPO DE DURAÇÃO: 105 minutos
SINOPSE: Melhores amigos desde sempre, Elle e Lee têm a inventiva ideia de gerenciar uma barraca do beijo durante um evento da escola. Para fazer da proposta um sucesso, a garota tenta convencer o galã Noah, seu crush e irmão mais velho de Lee, a participar da brincadeira. Ele se mostra irredutível, mas os dois acabam se aproximando como nunca, o que estremece a amizade de Elle e Lee.

ATENÇÃO: A RESENHA PODE CONTER SPOILERS DO FILME

Quem nunca suspirou, riu ou chorou (ou fez tudo isso junto) com uma comédia romântica que atire o primeiro lencinho. Acho que é impossível não ter se apaixonado, ao menos uma vez na vida, por um enredo clichê e cheio de estereótipos, mas que, ao final, faz com que a gente se identifique e consiga enxergar uma parte da nossa vida refletida ali. Essa fórmula tem sido explorada com ênfase ao longo dos anos e já rendeu clássicos como 10 Coisas que Odeio em Você ou O Clube dos Cinco. A Barraca do Beijo segue nessa mesma linha e leva o espectador por esse mundo mágico da adolescência e das descobertas, que (na maioria das vezes) são fadadas ao fracasso.

O filme é estrelado por Joey King, Joel Courtney e Jacob Elordi, e inicialmente nos apresenta a Elle e Lee, dois amigos de infância completamente inseparáveis (eles até nasceram no mesmo dia!) e apaixonados por jogos de dança de fliperama. Para que essa amizade realmente funcione e nada passa ser maior do que isso, a dupla cria uma série de regras, que devem ser seguidas à risca, no intuito de proteger e preservar a relação entre os dois (a melhor delas é que diz: sempre que alguém pedir desculpas a você com um sorvete, você deve aceitá-las). Entre estas regras, temos uma em particular que acaba desencadeando todo o enredo do filme: não se envolver (e muito menos se apaixonar) por algum familiar do outro.

Na minha opinião, essa é uma regra criada especificamente para Elle, uma vez que a relação entre Lee e seu irmão Noah (o mais cobiçado do colégio) não é lá essas maravilhas. E tudo ia muito bem, até o fatídico dia da barraca do beijo. Em um evento para angariar fundos do colégio, os dois amigos tem a ideia brilhante de construírem uma barraca do beijo, com os mais populares da escola participando dela. E é nessa barraca, depois de muita armação, confusão e desespero, que Elle beija Noah pela primeira vez. A partir daí, os sentimentos reprimidos da garota pelo irmão mais velho de seu melhor amigo afloram de vez e Noah passa a enxergar Elle com outros olhos. Eles, então, decidem manter o relacionamento entre os dois oculto de Lee, para evitar a briga entre ele e a garota. Só que isso obviamente não vai dar certo e todos nós sabemos disso, não é?

Como vocês podem ver, o enredo do filme é algo relativamente simples: o casal que se curte não pode ficar junto por conta de um milhão de empecilhos e a culpa ronda todos, em algum momento. Dentro dessa premissa temos todos os elementos clichês possíveis: o nerd quietinho, a garota atrapalhada, o bonitão bad boy, as meninas populares (e insuportáveis) que vivem ferrando a vida de todo mundo que não se encaixa no mundinho delas, as confusões, os babados e gritarias típicos de tramas de comédia romântica. E aí vocês me perguntam: isso ainda funciona? E eu respondo: claro que sim!

Por que? Simplesmente porque é impossível ignorar o apelo carismático que essa fórmula traz em si. Todos nós (ou pelo menos a grande maioria) já teve um amor impossível, ou totalmente platônico, um melhor amigo que amávamos, meninas contra as quais precisávamos nos blindar e situações constrangedoras que gostaríamos de esquecer. Eu estou ciente das muitas críticas e de todas as pessoas apontando o dedo para esse estilo de filme por ele não fazer parte daquele gênero considerado o máximo, cheio de enredos complexos, personagens construídas iconicamente e finais mirabolantes. Mas, sério, galera, será que são apenas esses os filmes que a gente deveria assistir? Não sei vocês, mas eu sempre tenho aqueles dias estressantes e cheios, no quais tudo que eu quero ao final do dia é me divertir, me emocionar e suspirar com um filme. E comédia romântica é definitivamente o gênero certo, pelo menos para mim. 

A gente precisa pensar, obviamente, que o sucesso desse estilo cinematográfico não vem do nada. Existe um público, uma demanda e pessoas que consomem esse tipo de longa, por isso ele é tão recriado e construiu uma fama ao longo da história. E não, ninguém é pior que ninguém porque curte assistir esse tipo de filme. Não nos tornemos aquela geração enjoada, que cultua filmes sem nem ao menos entendê-los direito apenas porque a crítica especializada afirma que eles são obras primas incríveis (e não estou dizendo que não sejam, vejam bem). Sou da opinião de que todo mundo precisa de um refresco em algum momento e, dentro dessa proposta, não dá pra negar que A Barraca do Beijo cumpre muito bem o que promete.

Como nem só de elogios vive o bloguinho, eu também admito que o longa, na minha opinião, tem alguns problemas. Vamos falar das personagens, porque é exatamente nelas que residem essas questões nem tão positivas assim. Elle é uma garota adolescente como a maioria de nós um dia foi. Insegura, cheia de dúvidas, descobrindo-se ainda. Além disso, ela é atrapalhada ao extremo, o que garante situações hilárias e super engraçadas, apesar de um pouco forçadas as vezes. O carinho que ela sente pelo Lee é genuíno e pode ser sentido por qualquer espectador e acredito ser por isso que se torna tão angustiante acompanhá-la se esforçando ao máximo para não estragar a amizade dos dois, indo, muitas vezes, contra seus próprios desejos. O mais interessante na Elle está no fato de que o amadurecimento da personagem, em alguns aspectos, como a autoconfiança, a persistência e a vontade de lutar pelo que ela realmente deseja, acontece diante dos olhos do espectador, gradativamente, transformando o enredo em algo muito mais crível e de fácil identificação.

Lee é um amor de pessoa: dócil, fofo e totalmente dedicado à amizade entre ele e Elle. O problema dele reside na reação um tanto quanto difícil que ele mantém com o irmão mais velho, Noah. Noah é tudo que Lee não pode (ou não consegue) ser, e isso gerou um grande complexo no garoto, fazendo nascer um sentimento de que ele precisava proteger tudo ao seu redor das garras do irmão, principalmente o que ele julgava realmente importante em sua vida, que ele realmente amava, o que inclui a Elle. Eu entendo, definitivamente, a frustração que é se sentir inferior em todos os aspectos possíveis, mas não acho que isso justifique o comportamento egoísta e possessivo que Lee tem quando o assunto é a Elle. O mais engraçado é que esse comportamento surge exatamente quando Noah é envolvido na história, o que me leva a crer que ele é a grande incógnita dessa questão. Depois de assistir ao filme, posso dizer que ele realmente é o problema aqui.

Noah é o típico galã adolescente: alto (muuuuuito alto!), bonitão e com pinta de bad boy, o cara faz as meninas suspirarem e os garotos quererem se parecer com ele. A princípio, até eu mesma suspirei por ele, mas tudo muda quando ele começa a realmente mostrar-se e ganhar destaque na trama. Vejam bem, caros viajantes, que eu não estou defendendo o comportamento do Lee com relação a Elle (apesar de eu ter criado uma tendência a gostar muito mais do Lee por motivos de: ele tem a carinha fofa e ponto), mas não posso ignorar a enorme luz vermelha de alerta que Noah representa para mim. Eu me considero, depois de muitas coisas pelas quais já passei, uma mulher feminista e isso, confesso, torna meu olhar um tanto crítica demais, algumas vezes até chato. No entanto, eu não poderia construir essa resenha sem explicar o ponto de vista que eu tenho das atitudes e reações do Noah ao longo do tempo de duração do filme e, acreditem, algumas delas são bem preocupantes.

Para começo de história, Noah só passou a notar Elle de verdade depois de um episódio lamentável (sério, Netflix?) em que ela se vê obrigada a aparecer na escola com uma saia curtíssima, mostrando a todo o quanto seu corpo havia mudado. Fala sério, ser notada apenas depois de uma situação dessas não é algo que entraria na sua lista de coisas incríveis que podem acontecer, certo? Só que Elle, acredito que até um pouco ludibriada por esse novo olhar de Noah sobre ela, não percebe que o garoto é uma fonte pulsante de problemas. Em determinadas cenas do filme, Noah chega a admitir para Elle que os próprios pais já procuraram ajuda para o comportamento agressivo que aflora no garoto constantemente, mas que ninguém nunca conseguiu entender de verdade de onde isso vem. Essa agressividade se mostra explícita em vários momentos ao longo do filme, um deles com maior clareza: após o fatídico acidente da saia, todos os garotos do colégio passam a ver Elle com outros olhos (eu sei, é meio nojento mesmo) e isso simplesmente enfurece Noah, mesmo que a garota não mantenha nenhuma tipo de relacionamento com ele, ainda. O bonitão, então, passa a ameaçar todo e qualquer garoto que demonstre um interesse maior pela menina, prometendo surras e repreensões. É claro que essa é uma tática bastante eficaz para manter todos longe de Elle e abrir caminho para sua aproximação, mas, na minha opinião, é perigosamente preocupante a forma como ele demonstra interesse por ela. Como ele é lindo, alto, popular e tem uma moto, lógico que essa questão é abordada no filme como algo fofo e protetor. Mas não é, gente: é assustador!

E os problemas de Noah não param por aí: ele tem a mania irritante de querer controlar as ações de Elle. Não sei vocês, mas nada me tira mais do sério do que um cara me dizendo o que fazer e quando fazer. Noah teima em acreditar que Elle não é capaz de sair de situações difíceis por conta própria, então ele sempre aparece para "ajudar" a donzela. O problema é quando isso se torna tão profundo, a ponto de decretar as ações da própria menina: em uma cena, Elle entra furiosamente no vestiário dos caras, e Noah praticamente a obriga a sair de lá. O que Elle, em sua infinita inteligência, faz? Tira a blusa e começa a dançar na frente de todos os meninos. E toda essa cena desconcertante, que nos é apresentada como forma de empoderamento por parte da garota, vem acompanhada da narração, na voz de Elle, deixando clara que aquela atitude fazia parte do projeto "você não manda em mim" e, de quebra, incitaria o ciúme do crush bonitão. Ou seja: as atitudes da menina giram em torno de Noah, de algum forma doentia e nada saudável.

Acho que deu para perceber que o Noah não foi meu personagem preferido, certo? Mas eu realmente entendo o argumento de algumas garotas com quem conversei sobre isso, que afirmaram que Noah estava apenas sentindo algo novo e não sabia lidar com aquilo. Posso compreender isso, de verdade. O que não entra na minha cabeça é o longa tentar bancar a visão um tanto quanto complicada de que essas atitudes são positivas e demonstram o tamanho do sentimento de Noah. Acho que aqui a gente entra na questão de repercussão e do quanto essa perspectiva pode, por mais que pareça exagero, disseminar uma abordagem altamente tóxica de um relacionamento abusivo. Sei que essa não é a intenção do filme, longe de mim dizer o contrário, mas as ações do nosso galã configuram abuso e isso não pode passar despercebido.

Vocês lembram ainda da lamentável cena da saia, certo? Vamos voltar a ela mais uma vez, porque é ela que nos mostra, com todas as pistas, que as personagens masculinas dessa história cultivam valores um pouco invertidos: o final da cena mostra Elle sendo assediada por um colega de escola, que simplesmente decide que aquela roupa dava a ele o direito de apertar a bunda dela. Sim, ele fez isso, caros leitores! E isso obviamente fez com que Noah aparecesse com seu escudo protetor, pronto para socar a cara do garoto que atentou contra sua amada (leia-se ironia aqui). Resultado: todos vão parar na sala do diretor, que decide, como autoridade suprema e infalível da escola, dar a Elle a mesma punição de seu agressor, dando a deixa para que ela fosse, nesta situação, vista como também culpada pelo ocorrido. Mas o pior, meus amigos, é que, alguns minutos depois, diante de um pedido de desculpas que não convence nem o meu cãozinho, Elle aceita sair com o mesmo garoto que apertou seu bumbum. Eu sei, claro, que na adolescência fazemos algumas coisas sem pensar e das quais nos envergonhamos mais tarde (eu mesma já fiz várias), mas vocês têm noção do quanto uma atitude dessas é nociva? Aliada à punição que Elle recebeu, ela dá à garota o mesmo patamar de culpabilidade de seu agressor (e sim, vou usar essa palavra de novo porque, para mim, é isso que ele é) e torna-a cúmplice, ou até mais responsável, pelo acontecido. Ela própria se convence disso, tanto que aceita o pedido de desculpas e ainda topa sair com o carinha, como se aquele ato depravado fosse realmente uma demonstração de interesse genuíno por parte dele. Eu fiquei tão revoltada, vocês nem imaginam!

Eu juro que não queria me alongar tanto nessa conversa sobre atitudes controversas, mas acho que é importante dar ênfase também a esse lado das personagens e do próprio filme, por mais que a maioria das pessoas não concorde ou simplesmente não veja sob essa ótica. Por ser um filme destinado ao público adolescente, mais que a qualquer outro, acho indispensável uma visão adequada e saudável da mensagem que o longa passa e das conotações que sua perspectiva sobre os eventos do filme carregam. O final, sem sombra de dúvidas, se supera, ao mostrar uma possibilidade na vida de Elle, que não inclui o Noah (e que pode ser bem mais produtiva, aliás). 

Gosto dos temas que o filme aborda, como amizade, autoconfiança, descoberta de si mesmo, amadurecimento e até a efemeridade das coisas e momentos ao longo dessa fase da vida, tão conturbada e confusa, na maioria das vezes. E acho que a grande sacada do longa vem exatamente daí, da realidade que traz intrínseco a si, da identificação que proporciona. Depois de alguns surtos de nervo, mas, confesso, muito mais de risos, acho que A Barraca do Beijo cumpre o que propõe o gênero comédia romântica: um enredo despretensioso, recheado de situações hilariantes, que entretêm e prende até o final. O desfecho ainda quebra os padrões e mostra algo que, pelo menos eu, não esperava. A Barraca do Beijo é exatamente um daqueles filmes que a gente vai amar ver e rever em um fim de semana chuvoso, acompanhada de chocolate quente e cobertor, mas eu não posso deixar as ressalvas passarem batidas. Vou deixar abaixo o trailer do filme, para vocês, viajantes que ainda não assistiram ao filme.




E vocês, já assistiram ao filme? Qual sua opinião sobre o Noah? Vamos conversar! Até a próxima postagem, viajantes!

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