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[NAS TELAS] Um Lugar Silencioso

04 julho 2018

Olá, viajantes dos livros!

Faz algum tempo que a gente não fala de filmes por aqui, não é? Eu estava sentindo falta de fofocar sobre esse tema com vocês, e achei a oportunidade perfeita nessa semana, quando assisti a um filme que me deixou extasiada com a qualidade e originalidade. 

Um Lugar Silencioso foi sucesso de crítica e já é considerado um dos melhores filmes de 2018. Pra você que ainda não assistiu ao filme, essa crítica traz as minhas impressões e nela eu dou as minhas razões pra essa fama arrebatadora que o longa alcançou em tão pouco tempo nas telonas.

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TÍTULO: Um Lugar Silencioso
TÍTULO ORIGINAL: A Quiet Place
DISTRIBUIDOR: Paramount Pictures
ANO DE LANÇAMENTO: 2018
TEMPO DE DURAÇÃO: 90 minutos
SINOPSE: Em uma fazenda dos Estados Unidos, uma família do meio-oeste é perseguida por uma entidade fantasmagórica assustadora. Para se protegerem, eles devem permanecer em silêncio absoluto, a qualquer custo, pois o perigo é ativado pela percepção do som.

O enredo de Um Lugar Silencioso é bastante simples e não tem nada de intrincado: ele nos apresenta uma família, vivendo em um espaço onde qualquer som pode provocar a morte. Isso porque existem alguns carinhas de outro mundo, ao que parece, e nada amigáveis que são guiados pelos ruídos. Ao escutarem qualquer barulho, os bichanos aparecem dispostos a atropelar e arrasar com qualquer um que esteja em seu caminho. A população do nosso lindo planetinha foi completamente massacrada pelos visitantes indesejados e, seguindo uma linearidade, a trama acompanha a saga desses personagens em busca da própria sobrevivência.

Se você está se perguntando o que tem de tão genial nisso, eu explico. O mais interessante nesse longa não é seu enredo, mas sim a forma como ele foi construído. Todo os elementos presentes ao longo do filme são pensados detalhadamente: as estratégias utilizadas pelos protagonistas para abafarem seus próprios ruídos são claras, precisas e bastante críveis. Elas vão desde as mais óbvias, como andar descalço e não utilizar a voz, até as mais geniais, como a utilização da areia em todos os caminhos pelos quais eles passam, a utilização das cores com sinal de alerta ou para comunicação com possíveis sobreviventes e a demarcação de possíveis barulhos feitos pela casa onde moram na locomoção, como tábuas rangendo ou perigos à vista.

Um dos aspectos mais importantes e originais de Um Lugar Silencioso, no meu ponto de vista, reside exatamente na impossibilidade dos personagens em utilizar sua voz para se comunicarem. Isso os obriga a encontrar outra forma de conversarem entre si e serem entendidos, o que nos leva à língua de sinais. Não sei vocês, mas eu particularmente não lembro de ter assistido a outro filme cujo roteiro fosse baseado totalmente nessa espécie de vocabulário, e eu achei uma sacada fenomenal. Primeiro porque tem tudo a ver com a principal caracaterística do filme; segundo porque traz esse aspecto inclusivo (uma das personagens principais do filme é surda, a propósito); e terceiro, mas não menos importante, porque é essa falta de diálogos da maneira convencional de vê-los que nos passa todo esse clima de tensão tão representativo do filme.

Aqui, acho que vale a pena destacar: se você é um desses viajantes que não passa nem perto de um filme de terror sem antes tomar um banho de água benta, pode ficar tranquilo. Apesar de ter recebido essa classificação (exagerada, ao meu ver), o filme tem muito mais a ver com o psicológico do espectador, com o clima de suspense constante ao longo de toda a narrativa, do que com o capiroto ou qualquer entidade por ele enviada. Aliás, a sinopse é um verdadeiro desastre! Eu fiquei o filme inteiro esperando a tal “entidade fantasmagórica” e ela não apareceu. Além disso, apesar de haver, sim, algumas cenas de perseguição, o longa é muito mais sobre sobrevivência, superação e união do que sobre correria e porrada.

Depois das reclamações sobre a sinopse, que eu não podia deixar passar, vamos voltar à parte realmente interessante: o quanto o filme é incrível! Os personagens, assim como todos os demais elementos que constroem o longa, são eximiamente personificados pelos atores. Eu confesso que não conhecia muitos deles, mas achei todos talentosos e acho, da perspectiva da minha pouca experiência em análise de atuações, que o trabalho que fizeram foi espetacular. Fiquei impressionada com a forma como eles conseguiram passar sentimentos tão intensos sem utilizar a linguagem padrão a que estamos habituados: eu senti o tempo inteiro pelo que eles estavam passando, ou o que eles estavam sentindo, a genialidade do enredo, para mim, advém da capacidade de diretor e atores de explorar essa relação tão íntima e próxima com o leitor, a ponto de um olhar ou um gesto falar tudo que é preciso. O pai da família traz em si um instinto protetor bastante latente, que também podemos enxergar na mãe. As crianças, inteligentes, perspicazes e cheias de coragem, roubam a cena a todo momento. E eu preciso falar das personagens femininas, que são extremamente fortes, valentes e firmes em suas decisões (eu amei tanto aquela cena final que nem sei dizer!). Isso sempre me ganha logo de cara, porque foge aquele estereótipo batido e cansativo de donzelas frágeis e inseguras em perigo, que precisam ser salvas a todo instante. Aqui, as mocinhas é que mandam nelas mesmas!

Eu li uma resenha incrível sobre esse filme dia desses, escrita pela Fabíola lá do Pausa Para Pitacos (acessem essa lindeza aqui), e ela destacou algo que eu achei que fosse coisa da minha cabeça de fã obcecada e que só eu tivesse percebido: o cenário remete muito aos livros do Stephen King, mestre do terror. A paisagem interiorana, a tensão crescente ao longo do longa, os elementos fantásticos presente no enredo e o fato de o filme mexer com o psicológico do espectador a todo momento são características bem marcantes no estilo de escrita do autor (quem não leu King, precisa ler, viu, meu povo?). Eu fiquei bem agradecida à Fabíola por ter feito eu me sentir um pouco menos sozinha nessas paranoias de fã.

Antes de terminar essa resenha, quero acrescentar mais dois pontos que eu considero importantes. Primeiro, se vocês me perguntarem sobre a trilha sonora, elemento tão importante em filmes, eu digo a vocês que aqui ela é praticamente nula (e acho que os motivos são bem óbvios), mas o filme te faz ficar tão envolvido, tão amarrado na cadeira, que ela nem faz falta. Aliás, se a trilha fosse um ingrediente nessa receita cinematográfica, além de incoerente, acho que eu teria tomado muitos sustos repentinos. Ao longo do filme eu me adaptei tanto à estratégia do silêncio que a narrativa exige, que o barulho de uma pipoca caindo no chão do cinema teria me assustado. O segundo e último (prometo!) ponto que eu não posso deixar de mencionar é que seria bastante interessante pra experiência de vocês que o filme fosse assistido com legendas. Se você não domina o código linguístico do longa, isso vai auxiliar bastante na compreensão dos diálogos.

Caso vocês tenham lido todo esse discurso feito para exaltar e venerar essa maravilha do cinema, mas ainda não estejam convencidos a olhar o filme, aqui embaixo eu vou deixar o trailer de Um Lugar Silencioso, só pra despertar ainda mais a curiosidade. Se vocês já assistiram ao filme, não deixem de me contar como foi a experiência de vocês e se vocês ficaram tão impactados quanto eu com o longa. Até a próxima!


Um comentário:

  1. A dinâmica proposta é interessantíssima. Afinal, é o contrário do que é visto na maioria dos filmes de horror recentes, que abusam de trilhas sonoras com metais e percussão. Se tem uma coisa que eu não gosto nos filmes de terror atuais, são os screamers, e o que eu mais gosto é o terror psicológico. Gostaria que vocês vissem pelos os seus próprios olhos A Coisa o filme Se ainda não viram, deveriam e se já viram, revivam o terror que sentiram. Depois de vê-la você ficara com algo de medo, poderão sentir que alguém os segue ou que algo vai aparecer.

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